Quantas pessoas passam por uma vida ao longo de 60 anos de existência? E se essa vida fosse a de uma instituição? É possível calcular a dimensão do impacto de uma universidade, com seus muitos braços e pernas, no decorrer de todo esse tempo? Sabendo essa missão impossível, mas não fugindo a ela, a Universidade Federal Fluminense, que completa seis décadas de vida no dia 18 de dezembro, vem comemorando seu aniversário ao longo de 2020 com uma programação variada, aberta à comunidade, além de muitas homenagens.
Uma parte importante dessa celebração traduz-se no reconhecimento do trabalho realizado nos seus nove campi, localizados em diversos bairros da cidade de Niterói, e também fora dela, como no interior do Estado do Rio de Janeiro e em Oriximiná, no Pará. Ao total são 45 unidades de ensino, que abrangem 126 cursos de graduação e 127 cursos de pós-graduação stricto sensu, 57.600 alunos ativos na graduação presencial e à distância, 7.540 servidores docentes e técnico-administrativos.
Em 2020, um ano marcado internacional e nacionalmente pela pandemia de COVID-19 e pelos esforços de enfrentá-la coletivamente, a área de saúde da universidade teve uma atuação fundamental de suporte à população, desenvolvendo ações específicas como resposta às demandas e urgências do momento. Toda essa atividade se traduziu em um intenso trabalho ao longo do ano nos três hospitais da universidade, que serão destacados nesta primeira reportagem de homenagem aos 60 anos da UFF.
Um primeiro exemplo disso é o projeto “Caixa de Memórias” desenvolvido pela Ação de Humanização para Enfrentamento da Pandemia do Hospital Universitário Antônio Pedro (Huap), que conta com a atuação das psicólogas Tânia Ventura e Virgínia Dresch e com o apoio da Associação dos Colaboradores do Hospital Universitário Antônio Pedro (ACHUAP).
Antes, os familiares levavam os pertences de um paciente que veio a falecer em um saco plástico, que ficava por três dias de quarentena, devido ao risco de contaminação. Agora a entrega é feita através da Caixa de Memórias, fazendo com que os pertences de pacientes que faleceram pela doença sejam repassados de forma mais protegida, afetiva e humanizada. Os parentes recebem uma caixa acompanhada de flores e um cartão com mensagem de apoio e contatos para ajuda psicológica neste momento difícil. De acordo com Thábata Luiz, psiquiatra do Huap e uma das idealizadoras do projeto, “essa é uma forma de ajudá-lo a começar a elaborar seu luto, um processo tão singular a cada um. Assim, pretendemos também mitigar o impacto à saúde mental das pessoas por conta da pandemia”, explica.
Outro projeto que merece destaque é o da visita virtual a pacientes do CTI do Huap internados com coronavírus. A ideia é que, através de um tablet, eles possam entrar em contato com os familiares, já que o ambiente de COVID-19 é de alta contaminação, inviabilizando a presença física de visitantes. Segundo Thábata, o objetivo é minimizar estressores adicionais, como o afastamento familiar e a impossibilidade de despedida, contribuindo para a prevenção de transtornos mentais e o estresse pós-traumático.
Além dessas ações elaboradas para fazer frente à pandemia, algumas outras realizadas anteriormente pelo hospital continuaram ativas, inclusive alcançando ótimos resultados ao longo do ano. Um exemplo é a atuação do Banco de Leite do Hospital Universitário Antônio Pedro (Huap), que aumentou em 33% a quantidade de leite humano coletado de janeiro a junho de 2020 em comparação com o ano anterior. Além disso, foram 15,5% a mais de doadoras nesses seis meses iniciais.
O sucesso pode ser explicado pelos esforços de adaptação feitos pela equipe para manter o projeto ativo durante esse período. Segundo a enfermeira e subcoordenadora do Banco de Leite do hospital, Bertilla Riker, o atendimento em tempos de COVID-19 ocorreu de forma diferenciada: “durante a pandemia, muita coisa teve que mudar na maneira de lidar com as mulheres com problemas de lactação. Os atendimentos passaram a ser por chamada de vídeo, e, a fim de segurar as doadoras e a equipe das rotas, foram necessários cadastros por telefone e coletas de sangue para controle, em datas pré-definidas e com uso completo dos EPIs”, enfatiza. As mulheres interessadas em participar podem entrar em contato no telefone (21) 2629-9234, das 8h às 13h.