Exposição TRIO de Luiz Badia
Dia 11 de Setembro inaugura no Espaço Cultural Correios de Niterói a exposição TRIO (Tempo Relativo do Inconsciente Onírico) com 33 trabalhos de grandes dimensões e 2 vídeos projetados.
Depois da DUO no mesmo local em 2020, o artista conseguiu fazer uma exposição maior e diversa. A maioria dos trabalhos foram criados na época da pandemia, num estado de reclusão criativa. A temática da exposição é sobre o inconsciente e suas formas de criação atemporal, onde as imagens e lembranças se misturam no passado e no presente. São várias referências da cultura Pop e erudita que flutuam numa superfície abstrata. A curadoria é de Osvaldo Carvalho
TRIO
LUIZ BADIA
De 11 de setembro a 30 de outubro de 2021
Segunda a sexta de 10h às 18h
Sábados de 13h ás 17h
Espaço Cultural Correios Niterói
Av Visconde do Rio Branco 481 Niterói
TRIO
Sobre o Tempo Relativo do Inconsciente Onírico
“mesmo o mais inesperado dos sonhos
é um quebra-cabeça que esconde um desejo”
Italo Calvino
Em As Cidades Invisíveis, Italo Calvino constrói um diálogo improvável entre dois personagens que não podem se entender verbalmente, mas que escutam um ao outro imaginam sonham desejam. Marco Polo e Kublai Khan são estes protagonistas que se revezam eventualmente com predominância do primeiro sobre o segundo. Sempre sequioso de saber acerca de seu império, o Grande Khan, incapaz de fazê-lo por si próprio, encontra nos relatórios de Polo uma maneira de discernir a delicada tessitura de sua composição, pede que aquele lhe conte por onde andou, que caminhos percorreu e, principalmente, as impressões que colheu em cada uma das cidades por que passou de seu vasto império até os limites da percepção quando então Khan se dá conta da imensa criatividade de Polo em torno de uma mesma cidade.
Sobre o Tempo Relativo do Inconsciente Onírico, Luiz Badia propõe um diálogo não muito diferente com o público em que as palavras se transmutam em fábulas por onde passeia o artista trazendo à tona relatos de pequenos mundos pessoais, labirintos intrincados da psique humana, de relações inacessíveis pela superfície da pele. Como a perscrutar as fronteiras do seu universo quimérico-pictórico, o artista sonha e acorda para dentro, assim diria Quintana. Ou ainda Jung quando diz que “quem olha para fora sonha, quem olha para dentro desperta”. Badia segue pelas vias matemático-literárias de Calvino, em cidades que flutuam cidades que se refletem cidades que se adelgaçam cidades que guardam seus mortos cidades ocultas. Cada uma de suas pinturas traz, tanto aos olhos, quanto ao imaginário, uma descrição única que se vê refletir flutuar ocultar se adelgaçar velar tela após tela que, por fim, são partes inalienáveis de suas próprias bases fenomenológicas.
Por mais espirituoso que pareça falar em inconsciente onírico, é bom lembrar que o estado onírico, por mais que se sinta em vigília, não mantém a consciência atuante nos sonhos o que faz crer ao sonhador estar diante da realidade; porém, há casos adversos, ou “sonhos lúcidos”, saber que se sonha enquanto sonha. Nesse ponto nos perguntamos de que lado da realidade nos encontramos diante de uma pintura do artista – eis uma questão em xeque nos trabalhos de Badia.
O tempo, aceito como relativo em suas faturas, recorre ao escopo einsteiniano da Teoria da Relatividade sem distinção entre passado, presente ou futuro, ilusões obstinadas que nos perseguem, como diria o físico teórico alemão, e que se projetam na fatura do artista em memórias imagéticas que juntam no mesmo espaço-tempo reflexos de ontem, ecos de hoje, flashes de amanhã. Badia consagra às suas representações suspensão e equilíbrio, cria diálogos delirantes, converge para a superfície pictórica o antes o depois e o agora.
Contudo, como nos alerta Freud em seu primoroso A Interpretação dos Sonhos, “para que não se pense que é assim tão fácil inferir dos sonhos as reais condições de vida do sonhador”, fica um aviso, parafraseando Calvino: jamais se deve confundir uma pintura com o discurso que a descreve.
Osvaldo Carvalho
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